26 outubro 2009
22 outubro 2009
19 outubro 2009
A rua é malvada
[...]
Estou-me nas tintas para que me considerem sério ou não. Ainda lhes bebo à saúde. A minha intervenção é gratuita, absolutamente suplementar. A mãe apela outra vez para as suas coxas. Dou um derradeiro parecer. E depois, desço as escadas. No passeio está um cãozito, que coxeia. Segue-me por sua alta recriação. Tudo esta tarde se me agarra. É um pequeno fox, o cão, preto e branco. Está perdido parece-me a mim. Aqueles ingratos daqueles desempregados lá de cima. Nem sequer me acompanham à porta. Tenho a certeza que começaram logo à pancada. Ouço-os a berrar. Ele que lhe meta o tição todo pelo cu a dentro! Para a endireitar àquela porca! Para ela aprender a não me vir incomodar!
Agora viro à esquerda... Para Colombes, em suma. O cãozito continua atrás de mim... A seguir a Asniêres é a Jonction e depois o meu primo. Mas o cãozito coxeia muito. Olha para mim. Chateia-me vê-lo arrastar-se. O melhor é voltar para casa ao fim e ao cabo. Viemos pelo Pont Bineux e depois à beira das fábricas. Ainda não tinha fechado, o dispensário, quando eu voltei... «Vamos lá dar de comer a este rafeiro – disse eu para a Senhora Hortense. Alguém que vá buscar carne... Amanhã de manhã cedo logo se telefona... Hão-de vir buscá-lo de carro, lá da Protectora. Esta noite o melhor é ficar fechado.» Lá fui então, sossegado. Mas era um cão muito assustadiço. Tinha recebido duros golpes. A rua é malvada. Ao abrir a janela, no dia seguinte, nem sequer esperou, saltou logo lá para fora, também nós lhe metíamos medo. Julgou que o tínhamos castigado. Não percebia nada de nada. Confiança já a perdera de todo. Quando é assim é terrível.
[...]
Louis-Ferdinand Céline
Morte a Crédito
tradução de Luiza Neto Jorge
Assírio & Alvim, 1986
Estou-me nas tintas para que me considerem sério ou não. Ainda lhes bebo à saúde. A minha intervenção é gratuita, absolutamente suplementar. A mãe apela outra vez para as suas coxas. Dou um derradeiro parecer. E depois, desço as escadas. No passeio está um cãozito, que coxeia. Segue-me por sua alta recriação. Tudo esta tarde se me agarra. É um pequeno fox, o cão, preto e branco. Está perdido parece-me a mim. Aqueles ingratos daqueles desempregados lá de cima. Nem sequer me acompanham à porta. Tenho a certeza que começaram logo à pancada. Ouço-os a berrar. Ele que lhe meta o tição todo pelo cu a dentro! Para a endireitar àquela porca! Para ela aprender a não me vir incomodar!
Agora viro à esquerda... Para Colombes, em suma. O cãozito continua atrás de mim... A seguir a Asniêres é a Jonction e depois o meu primo. Mas o cãozito coxeia muito. Olha para mim. Chateia-me vê-lo arrastar-se. O melhor é voltar para casa ao fim e ao cabo. Viemos pelo Pont Bineux e depois à beira das fábricas. Ainda não tinha fechado, o dispensário, quando eu voltei... «Vamos lá dar de comer a este rafeiro – disse eu para a Senhora Hortense. Alguém que vá buscar carne... Amanhã de manhã cedo logo se telefona... Hão-de vir buscá-lo de carro, lá da Protectora. Esta noite o melhor é ficar fechado.» Lá fui então, sossegado. Mas era um cão muito assustadiço. Tinha recebido duros golpes. A rua é malvada. Ao abrir a janela, no dia seguinte, nem sequer esperou, saltou logo lá para fora, também nós lhe metíamos medo. Julgou que o tínhamos castigado. Não percebia nada de nada. Confiança já a perdera de todo. Quando é assim é terrível.
[...]
Louis-Ferdinand Céline
Morte a Crédito
tradução de Luiza Neto Jorge
Assírio & Alvim, 1986
15 outubro 2009
06 outubro 2009
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