30 outubro 2006

Alice

"ALICE", de Robert Wison/Tom Waits/Paul Shmidt, estreou em 19 de Dezembro de 1992 no Thalia Theater de Hamburgo. Esteve em Portugal, no Centro Cultural de Belém a 12,13 e 14 Março de 1994.





Encenação e cenografia Robert Wilson



Música e Letras de Tom Waits em co-autoria com Kathleen Brennan



It’s dreamy weather we’re on
You waved your crooked wand
Along an icy pond, with a frozen moon
A murder of silhouette crows, I saw
in the tears on my face
And the skates on the pond, they spell "Alice"
I'll disappear in your name, but you must wait for me
Somewhere across the sea, there’s the wreck of a ship
Your hair is like meadow-grass, on the tide
And the raindrops on my window,
and the ice in my drink
Baby, all I can think of is "Alice"

Arithmetic, arithmetock, turn the hands back on the clock
How does the ocean rock the boat?
How did the razor find my throat?
The only strings that hold me here
are tangled up around the pier

And so a secret kiss brings madness with the bliss
And I will think of this when I’m dead in my grave
Set me adrift, and I’m lost over there
And I must be insane, to go skating on your name
And by tracing it twice, I fell through the ice of "Alice"

And so a secret kiss brings madness with the bliss
And I will think of this when I’m dead in my grave
Set me adrift, and I’m lost over there
And I must be insane, to go skating on your name
And by tracing it twice, I fell through the ice of "Alice"

There’s only "Alice"

KNEE 5 O GATO PERSA

Gato
É noite, pouco antes de amanhecer, bem nos fundos da casa.
Está uma menina deitada na cama, como um rato está na sua toca.
A paisagem é nua, uma teia de sonhos bravios...
Os seus gritos ecoam por salas sem fim.

Vinda de longe uma voz repassa o sono:
Não tenhas medo, só tens que ser boazinha -
Se ficares quietinha nada vai acontecer, minha filha.
Mas também há beijos que se tornam mortais.

Não te iludas de que alguém virá para te acudir,
E quando alguém chegar já todos terão morrido;
Não te iludas, a noite não passou ainda
Os olhos estão fechados e a lingua ficou muda.

Os sonhos das crianças são de sua propriedade,
Desde que os grandes não lhes trepem para a cama.
Nos sonhos as escadas são abruptas e arriscadas;
Mas, ao despertar, os medos foram vencidos.

Alice
Que caminho hei-de tomar?

Gato
Tanto faz. A leste encontras o chapeleiro; é maluco. Para Oeste encontras a lebre de Março que também é maluca.

Alice
Aqui parecem todos malucos.
Gato
É verdade, eu também sou maluco...Completamente maluco.
Alice
Eu não.
Gato
Claro que és. Se não fosses maluca não estavas aqui.


CENA 14 O JULGAMENTO II
...
Há anos que não me olhas assim
Em sonho me inventaste e deixaste-me aqui
Durante quanto tempo sonhei
Para quê, afinal, me quiseste.
Há anos que não me olhas assim
O teu relógio parou e o lago é transparente
Alguém que apague a luz outra vez
Amar-te-ei até o tempo parar
Lembro-me de ti com folhas no cabelo
Embora aqui esteja.

Textos de Paul Smidt


26 outubro 2006

Farmlands II

Verso da paisagem do post anterior...

...mas a obra mais conhecida do autor é esta.

Link , link , you never know...

24 outubro 2006

17 outubro 2006

13 outubro 2006

"Em Torno"






"homem do lixo"
Nuno Ramalho e Renato Ferrão
Caixote do lixo no lado esquerdo do canteiro central à entrada do jardim do palácio de cristal, Instalação

Em tempos, um homem mudo e velho vendia jornais na entrada do palácio. Dizia-se que perdera a fala de um momento para o outro e o próprio sempre se escusou a dizer, por escrito ou outro meio, o que lhe sucedera. Era eu ainda novo quando um antigo guarda do parque me satisfez a curiosidade acerca daquela figura triste que à entrada me chamava a atenção.
O caso dera-se no principio do Verão, uma tarde após o almoço num dos bancos do jardim. Um estudante frequentador da biblioteca adormeceu enquanto lia os classificados de um jornal. Ao acordar com as folhas revolvidas no rosto teve a sensação que algumas horas haviam passado. Certo que perdera o dia e sentindo-se incómodo na situação, levantou-se entorpecido do corpo e olhando para a folha impressa que deslizava do colo para os pés. Intuitivo, agachou-se para a recuperar e com espanto, reparou que na secção de necrologia, entre todos os rostos se apresentava também o seu. Passou incrédulo os olhos pela habitual condolência e leu o seu nome. Fixou confuso durante algum tempo o inequívoco retrato. Atordoado com a singularidade dos acontecimentos, resolveu esquecer para assim se conservar. Decidiu abalar e enfiou rapidamente o jornal num cesto para papéis quando pela abertura, uma voz que não lhe soou de todo estranha o devolveu á inquietação: “ser é ser retratado” ouviu. Com as pernas a tremer verificou que não conseguia largar o jornal ou recolher o braço que agora sentia rígido, o esforço do movimento parecia envolver ainda mais para dentro, como se qualquer tentativa fosse um passo para ser engolido. Sentindo-se refém na situação inquiriu o cesto nas suas intenções, ao que este retorquiu com a estranha afirmação proferida momentos antes, para de seguida propor que a remoção da sua imagem na necrologia lhe custaria a voz. O estudante não reflectiu ante a estranha imobilidade que lhe magoava o braço, cedendo á proposta viu-se livre com as folhas de jornal na mão. Procurando ansioso o seu retrato, foi com alivio que não se identificou com qualquer daquelas fotografias.
Feliz com o desfecho do bizarro episódio, caminhou tranquilizando-se até perceber que não conseguira vociferar a satisfação que o invadira instantes antes e foi nessa altura que ouviu por trás de si, do interior do cesto de papéis, a sua própria voz: “ser é ser-se ouvido”.
Renato Ferrão (texto e voz)

07 outubro 2006