"ALICE", de Robert Wison/Tom Waits/Paul Shmidt, estreou em 19 de Dezembro de 1992 no Thalia Theater de Hamburgo. Esteve em Portugal, no Centro Cultural de Belém a 12,13 e 14 Março de 1994.
Encenação e cenografia Robert Wilson
Música e Letras de Tom Waits em co-autoria com Kathleen Brennan
30 outubro 2006
26 outubro 2006
Farmlands II
24 outubro 2006
20 outubro 2006
17 outubro 2006
13 outubro 2006
"Em Torno"
"homem do lixo"
Nuno Ramalho e Renato Ferrão
Caixote do lixo no lado esquerdo do canteiro central à entrada do jardim do palácio de cristal, Instalação
Em tempos, um homem mudo e velho vendia jornais na entrada do palácio. Dizia-se que perdera a fala de um momento para o outro e o próprio sempre se escusou a dizer, por escrito ou outro meio, o que lhe sucedera. Era eu ainda novo quando um antigo guarda do parque me satisfez a curiosidade acerca daquela figura triste que à entrada me chamava a atenção.
O caso dera-se no principio do Verão, uma tarde após o almoço num dos bancos do jardim. Um estudante frequentador da biblioteca adormeceu enquanto lia os classificados de um jornal. Ao acordar com as folhas revolvidas no rosto teve a sensação que algumas horas haviam passado. Certo que perdera o dia e sentindo-se incómodo na situação, levantou-se entorpecido do corpo e olhando para a folha impressa que deslizava do colo para os pés. Intuitivo, agachou-se para a recuperar e com espanto, reparou que na secção de necrologia, entre todos os rostos se apresentava também o seu. Passou incrédulo os olhos pela habitual condolência e leu o seu nome. Fixou confuso durante algum tempo o inequívoco retrato. Atordoado com a singularidade dos acontecimentos, resolveu esquecer para assim se conservar. Decidiu abalar e enfiou rapidamente o jornal num cesto para papéis quando pela abertura, uma voz que não lhe soou de todo estranha o devolveu á inquietação: “ser é ser retratado” ouviu. Com as pernas a tremer verificou que não conseguia largar o jornal ou recolher o braço que agora sentia rígido, o esforço do movimento parecia envolver ainda mais para dentro, como se qualquer tentativa fosse um passo para ser engolido. Sentindo-se refém na situação inquiriu o cesto nas suas intenções, ao que este retorquiu com a estranha afirmação proferida momentos antes, para de seguida propor que a remoção da sua imagem na necrologia lhe custaria a voz. O estudante não reflectiu ante a estranha imobilidade que lhe magoava o braço, cedendo á proposta viu-se livre com as folhas de jornal na mão. Procurando ansioso o seu retrato, foi com alivio que não se identificou com qualquer daquelas fotografias.
Feliz com o desfecho do bizarro episódio, caminhou tranquilizando-se até perceber que não conseguira vociferar a satisfação que o invadira instantes antes e foi nessa altura que ouviu por trás de si, do interior do cesto de papéis, a sua própria voz: “ser é ser-se ouvido”.
Renato Ferrão (texto e voz)
Etiquetas:
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instalação,
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10 outubro 2006
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