11 abril 2006

Livro à Quarta: Le Nu Perdu


LE TERME ÉPARS

Si tu cries, le monde se tait: il s'éloigne avec ton propre monde.

Donne toujours plus que tu ne peux reprendre. Et oublie. Telle est la voie sacrée.

Qui convertit l'aiguillon en fleur arrondit l'éclair.

La foudre n'a qu'une maison, elle a plusieurs sentiers. Maison qui s'exhausse, sentiers sans miettes.

Petite pluie réjouit le feuillage et passe sans se nommer.

Nous pourrions être des chiens commandés par des serpents, ou taire ce que nous sommes.

Le soir se libère du marteau, l'homme reste enchaîné à son coeur.

L'oiseau sous terre chante le deuil sur la terre.

Vous seules, folles feuilles, remplissez votre vie.

Un brin d'allumette suffit à enflammer la plage où vient mourir un livre.

L'arbre de plein vent est solitaire. L'étreinte du vent l'est plus encore.

Comme l'incurieuse vérité serait exsangue s'il n'y avait pas ce brisant de rougeur
au loin où ne sont point gravés le doute et le dit du présent.
Nous avançons, abandonnant toute parole en nous le promettant.


LIED DA FIGUEIRA

Gelou tanto que os ramos leitosos
Molestaram a serra e nas mãos se partiram.
A primavera não viu verdejar os graciosos.

A figueira pediu ao amo do jacente
O arbusto de uma nova fé.
Mas o verdelhão, seu profeta,
Na alva quente do seu regresso,
Ao pousar sobre o desastre,
Em vez de fome, morreu de amor.

René Char, Le Nu Perdu (1964-1970)

13 comentários:

Naked Lunch disse...

genial, a sugestão de ontem.

morrer de amor é um acto inútil.

Naked Lunch disse...

...o que não põe em causa a poesia da coisa

Living Place disse...

Francês...... ná percebo nada :-(

Art&Tal disse...

algo que preserva na boca. até dá pena engolir.

abraço

Anónimo disse...

Eu eras tu!
Como podemos então não morrer de amor pela parte que nosso ser já viu a nú?
Nesse tempo em que por tanto amar tu e eu fôramos um.

Amélia Vieira

CS disse...

Connais pas!

Bom S. Martinho!!!

Lúcio Ferro disse...

Que pena. Como será triste morrer de fome. E doloroso. Consegues imaginar-te a definhar, dia após dia, perdendo as forças, a lucidez, a vontade? Deve ser muito triste. Muito, muito.

_vera_ disse...

Este livro de René Char não conhecia. Faz-me falta, aqui, o meu 'Furor e Mistério'
"Nous pourrions être des chiens commandés par des serpents, ou taire ce que nous sommes"...)

Living Place disse...

Ops, confesso que vi o poema em Português, escrevi e depois disse para os meus botões: -tb tem em Português, acho que vai perceber mal......ops pois foi

Art&Tal disse...

nao sendo a mesma coisa...
conheces a passarada do paul panhuysen. sao intalaçoes musicais com canarios.

Anónimo disse...

E há um que tem como título "Fizeste bem em partir, artur Rimbaud" que é genial...
Z.C

M.M. disse...

"L'oiseau sous terre chante le deuil sur la terre."

Alguma vez te disse que tenho uma única fobia? Mas mesmo fobia. E sei a origem - o belo filme do Hitchcock.
A porra dos pássaros!

isabel mendes ferreira disse...

bom dia bom dia.....cheguei,.... e deu-me uma coisinha "má"....lá para os lados de Akaba....beijos. com saudade....



(sorriso)....ora vá lá ver se gostou...