06 maio 2006

Cem anos de Samuel Beckett



ESTRAGON – [...] Vamos embora.
VLADIMIR – Não podemos.
ESTRAGON – Porquê?
VLADIMIR – Estamos à espera do Godot.
ESTRAGON – (Sem esperança) Ah, pois é. (Pausa) Tens a certeza que era aqui?
VLADIMIR – O quê?
ESTRAGON – Que tínhamos de esperar?
VLADIMIR – Ele disse ao pé da árvore. (Olham para a árvore.) Estás a ver outra?
ESTRAGON – Que árvore é que é?
VLADIMIR – Não sei. Um salgueiro chorão. [...]
ESTRAGON – Ele já cá devia estar.
VLADIMIR – Ele não deu a certeza que vinha.
ESTRAGON – E se não vier?
VLADIMIR – Voltamos amanhã.
ESTRAGON – E depois de amanhã.
VLADIMIR – Talvez.
ESTRAGON – E por aí fora.



À Espera de Godot, peça escrita em francês em 1948 e representada pela primeira vez em 1952, em Paris.
Em 1956, na sequência do impacto produzido por Godot, Beckett recebe um convite da BBC para escrever uma peça para rádio. Daí resultará All That Fall/Todos os que Caem, escrita em Setembro de 1956, a sua primeira peça radiofónica e a mais extensa de todas as que viria a escrever para a rádio. Foi a primeira peça de Beckett estreada em inglês e a segunda, depois de À espera de Godot, a ter uma apresentação pública, uma vez que foi transmitida pela rádio britânica no dia 13 de Janeiro de 1957.

Beckett, insistia em que o texto não tivesse outra forma de encenação que não a radiodifusão para a qual fora concebido. Afirmava que as personagens só fariam sentido emergindo da escuridão ("coming out from the dark", na citação de Knowlson), isto é, num universo construído mentalmente pelo receptor ao ouvir as vozes e sons, destituídos de imagens concretas... mas a peça tem passado por vários palcos: teve encenação recente do Teatro da Comuna, em Lisboa (23.02.2006 a 01.04.2006).

Cascando, peça radiofónica (1963), na versão do "Theather for yor Mother" (1979)

Abertura - Frank Collison
Voz - Joseph J. Casallini
Música - Lesli Dalaba, Trumpet
Música composta por Wayne B. Horvitz


Em 1964 Beckett realizou o seu único filme, The Film, com a participação de Buster Keaton.


Quad I & II (1982)

Peça para televisão de Samuel Beckett, onde quatro figuras sem rosto correm com precisão de um lado para outro dentro de um quadrado. Coreografias repetidas com mínimas variações, combinadas ad infinitum.
Vale a pena ver ou, como diz Beckett n'O Inominável "that's right, link, link, you never know ..."

22 comentários:

isabel mendes ferreira disse...

a s.b. deu(?) deu tudo.



(bom dia. desculpe mas não percebi o comentário no Piano...coisas de mãe...sorriso)

Art&Tal disse...

tu mereces tudo rapaz... i love samuel, i love ... i love...

isabel mendes ferreira disse...

..................b.e.i.j.o.

Anónimo disse...

I'm speechless.
Z.C

O Caso de Charles Dexter Ward disse...

Pensei que fosses falar dos 150 anos de Freud :)
Vi em teatro À espera de Godot e confesso que me aborreci.

Anónimo disse...

"Ireland's first gold euro coin has been minted to celebrate the centenary of the birth of playwright Samuel Beckett, who is portrayed on the limited edition currency."

[A] disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
[A] disse...

and I´m Waiting For My Man

o Iggy já se ouve desta vez!
podes voltar(que estás perdoado)!
xxx

Anónimo disse...

ESTRAGON – E se não vier?
VLADIMIR – Voltamos amanhã.
ESTRAGON – E depois de amanhã.
VLADIMIR – Talvez.
ESTRAGON – E por aí fora....

e valeu a pena ver ou, como diz Beckett n'O Inominável "that's right, link, link, you never know ..."

Naked Lunch disse...

ou os 30 cm do jonh holmes. sorry... grande abraço. gosto muito deste teu cantinho

isabel mendes ferreira disse...

:) :) :) despedida?????


Não. de todo....apenas metáfora. sobre a escrita....


claro que volto....

beijos....

a. disse...

realidade. irrealidade. sonho.

_vera_ disse...

Não consigo ver as imagens (ainda).
A área dos buracos por onde as palavras se irrespiram e os passos titubeam. O Inominável reune essa ex-tranho substracto em que se indistingue a fronteira de um pé, um ruído e uma síntaxe esburacada. Por isso. Essa seria a minha área, a gramática dos buracos e da pele que os reveste de ar. Dar todos os passos e ficar em suspensão.
«Agora, onde? Agora, quando? Agora, quem? Sem perguntar a mim mesmo. Dizer eu. Sem pensar. E dizer que são perguntas, hipóteses. Ir em frente, dizer que é ir, dizer que é em frente."

CS disse...

este o "fin de partie"? Se calhar era muito infantil quando li, mas custou-me como o diabo!

Anónimo disse...

.
gosto de personagens que só fazem sentido emergindo da escuridão.
.
e da vida construída sobre o nada, que é tudo o que há.
.

Naked Lunch disse...

gosto dos comentários d@ corpo visível...

M.M. disse...

Este teu post de hoje sensibilizou-me imenso. It actually made me break down for a moment... não sei bem explicar porquê. Ou talvez até saiba.
Gosto muito de vir aqui.

Diafragma disse...

Com as minhas desculpas por vir fora do contexto, mas como combinado:
______________________
Então não é que ouvi hoje na TSF um presidente qq das águas e mais um membro do governo (ia no carro e não percebi quem) a insistirem que este ano não ia haver seca, e que portanto (cito) "... NÃO HAVIA NECESSIDADE DE TOMAR MEDIDAS DE POUPANÇA" até porque (volto a citar) "... SE NECESSÁRIO ATÉ TEMOS RESERVAS QUE CHEGUEM PARA 2007" !!!
Isto é absolutamente espantoso!! Em vez de tomarmos TODAS as medidas possíveis para evitar gastos do bem mais precioso, vêm aqueles dois com este discurso!

merdinhas disse...

Diafragma
Agradeço o comentário que se destina a fazer um novo post
Se puder faço-o mas, neste momento, estou sem tempo.
Entretanto, se alguém me der mais informações - como, por exemplo, quem o disse - agradeço.

zazie disse...

bom material por aqui!

Anónimo disse...

Beckett.
Acho que dos cem anos só conheço um...mas vou a tempo.

Haddock disse...

em 10/01/08 este postal ainda mexe... pelas bandas do sono!

abraço!!