17 maio 2006

Dança Macabra

O Cemitério

O Louco

A Criança

O Ladrão

A Rainha

O Papa

"A dança da Morte" (Danse macabre) é um livro que contém gravuras de Hans Holbein "o jovem" e que, inicialmente, foi publicado em Lyons em 1538.
"Lembra-te de que morrerás". O livro exibe várias pessoas, humildes e nobres, pobres e ricos, crianças, jovens e velhos, laicos e eclesiásticos, todos a serem tocados pela morte. Um imenso desfile da condição mortal do homem.
Vejam também, entre outras galerias, a do Alfabeto da Morte, parte integrante do Livro da Morte.



Leite negro da madrugada nós o bebemos de noite
nós o bebemos ao meio-dia e de manhã nós o bebemos de noite
nós o bebemos bebemos
cavamos um túmulo nos ares lá não se jaz apertado
Um homem mora na casa bole com cobras escreve
escreve para a Alemanha quando escurece teu cabelo de ouro Margarete
escreve e se planta diante da casa e as estrelas faíscam ele assobia para os seus mastins
assobia para os seus judeus manda cavar um túmulo na terra
ordena-nos agora toquem para dançar

Leite negro da madrugada nós te bebemos de noite
nós te bebemos de manhã e ao meio-dia nós te bebemos de noite
nós bebemos bebemos
Um homem mora na casa bole com cobras escreve
escreve para a Alemanha quando escurece teu cabelo de ouro Margarete
Teu cabelo de cinzas Sulamita cavamos um túmulo nos ares lá não se jaz apertado
Ele brada cravem mais fundo na terra vocês aí cantem e toquem
agarra a arma na cinta brande-a seus olhos são azuis
cravem mais fundo as enxadas vocês aí continuem tocando para dançar

Leite negro da madrugada nós te bebemos de noite
nós te bebemos ao meio-dia e de manhã nós te bebemos de noite
nós bebemos bebemos
um homem mora na casa teu cabelo de ouro Margarete
teu cabelo de cinzas Sulamita ele bole com cobras
Ele brada toquem a morte mais doce a morte é um dos mestres da Alemanha
ele brada toquem mais fundo os violinos aí vocês sobem como fumaça no ar
aí vocês têm um túmulo nas nuvens lá não se jaz apertado

Leite negro da madrugada nós te bebemos de noite
nós te bebemos ao meio-dia a morte é um dos mestres da Alemanha
nós te bebemos de noite e de manhã nós bebemos bebemos
a morte é um dos mestres da Alemanha seu olho é azul
acerta-te com uma bala de chumbo acerta-te em cheio
um homem mora na casa teu cabelo de ouro Margarete
ele atiça seus mastins sobre nós e sonha a morte é um dos mestres da Alemanha
teu cabelo de ouro Margarete
teu cabelo de cinzas Sulamita

Paul Celan
“Fuga da Morte”:
(tradução de Modesto Carone)

13 comentários:

zazie disse...

áh! mas que maravilha! nunca me tinha dado ao trabalho de as juntar assim todas.

Boa merdinhas! estou com uma vontade de ir ver o Holbein a Londres...

Naked Lunch disse...

boa. gosto especialmente da primeira gravura.

Diafragma disse...

Mais um excelente post.
Só como roda-pé, Camille Saint Saëns também compôs uma famosíssima Dança Macabra, que representa os esqueletos de todos os mortos a dançarem ao som do seu violino. Particularmente impressionante esta dança, com o som do Xilofone a lembrar os ruidos dos ossos dos esqueletos a baterem uns nos outros.

M.M. disse...

Excelente post, merdinhas.

M (de MM e de Merdinhas)
"The physician holds a urine glass (his own?) up against the candle. Death sneaks up from behind, places his left hand on the physician's shoulder and grabs the glass with his right hand.
In Holbein's picture Death doesn't break the glass, but it's hard to determine whether Death is taking the glass or handing it to the physician? In Holbein's "great" dance of death, Death brings an old man to the physician and hands him a urine glass as a challenge.
It's not easy to see what's going on to the right of the letter M. At the bottom right there's something looking like chickens' feet. Maybe it's a half-hidden devil who has filled the glass?"

E tb me fez lembrar umas cartas de tarot que tenho, com uns desenhos fantásticos. :-)

Anónimo disse...

Holbein antes de dançar. Gosto muito deste post.

disparosacidentais disse...

parabéns também.

Anónimo disse...

O louco não é levado pela morte: caminha com ela. Pelo menos, é assim que gosto de ver a coisa. A cada um a sua morte: a do Orfeu Cocteau (ou Jean Orfeau) vem de limousine. À rainha faz momices e ao papa dobra o joelho.

Anónimo disse...

"vocês aí continuem tocando para dançar..."
Muito bonito esse poema.

Anónimo disse...

Muito interessantes estas danças com a morte.
E por falar em morte... que filme é esse da Corpo Visível com o fantasma da Frida?
O Caso de Charles Dexter Ward (não consigo comentar como blogger)

a. disse...

espanto-me com facilidade

Madame Pirulitos disse...

E para quem não gosta de leite?

Anónimo disse...

"Entre os séculos XI e XII surge a dançomania , ritual de desespero frente a dores físicas e doenças epidêmicas como a peste negra, onde as pessoas dançavam freneticamente como forma de expressar o pavor pela morte. Conhecida como dança macabra durou até o Renascimento. O povo, dizimado por pestes e perseguido por guerras, passou a firmar sua fé e amor pela vida através dessas danças, como uma forma de confrontar o movimento humano com o estatismo da morte nas cerimônias fúnebres. Mas, a Igreja combatia tal manifestação, cujos "... padres tentavam conter a histeria com orações de exorcismo e água benta". "

Anónimo disse...

A citação é daqui:

http://www.efdeportes.com/efd11/danca.htm